Existe algo no saber que apavora. Algo que paralisa. O saber é uma mão desajeitada, de gestos bruscos e golpes corajosos, que desnuda o mundo e o faz vibrar em tons de certeza e lucidez. Tons que a minha retina nem sempre deseja enxergar, mas que irrenunciavelmente o faz, porque é para isso que existe, porque não conhece outra forma de existir.
Penhascos são altos cumes rochosos, mas também são abismos para quem os olha de cima. Desloco-me de um canto a outro e é a consciência dessa multiplicidade que me causa esses espasmos cerebrais que nos ensinaram a chamar de dúvidas. O conhecimento se agiganta mais e mais à medida que o conheço. E, assim como tudo o que vemos na superfície, também é o saber: quanto mais perto dele estamos, tanto maior é o seu tamanho aparente [mesmo que, como diria meu pai (tão amado), não ocupe espaço algum, nessas massas cinzentas e brancas].
As sinapses que o conhecimento cria vão, então, furiosamente, transformando a mim e à minha liberdade. Então, percebo que já não há liberdade quando a ignorância dá lugar ao saber. Ainda que a ignorância tenha declarado guerra ao livre arbítrio, porque faz surgir um vício redibitório, o conhecimento é o único que me aprisiona às minhas decisões: a responsabilidade de as ter tomado conscientemente é um peso irrenunciável. Assim foi erigido o termo “consentimento”.
Concluo, então, que a liberdade... ela sequer existe! Conhecer é um ato inevitável de abrir uma ferida que nunca se vai cicatrizar, de seguir um caminho cujo retorno é impossível. E tudo que é impossível impossivelmente será livre, ou libertador. O saber é a verdade, mas a verdade nem sempre é querida; ainda que seja genuinamente necessária.
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