domingo, 28 de junho de 2015

Solilóquio & Samba

Não sabia como começar essa publicação, então decidi iniciá-la com a verdade: escrevo melhor quando estou triste; e, quase sempre, só escrevo porque estou triste. Pra ser sincera, os únicos textos meus de que realmente gosto são os que redigi enquanto estava triste, imersa naquela melancolia profunda, quando consigo atingir meu ápice de reflexão sobre quaisquer assuntos, o estágio máximo da minha fluidez mental. Melhor: é quando, na verdade, sinto necessidade dessa reflexão. 

A tristeza é um status de introspecção, quando você se volta para você mesmo. Olhar para si é muito mais difícil do que olhar para o mundo, por isso que doi. Você não sofre pelo outro, você sofre por você, por se enxergar numa situação de desalento e desconforto, por ver aquele ser humano todo que você é lamentando e suplicando pela alegria; o que não deve, em qualquer hipótese, ser confundido com pena, autopiedade. Você só se sente triste por lembrar dos lapsos de felicidade a que deseja ter acesso novamente. E eu digo "novamente" porque quem nunca esteve triste não sabe realmente o que é ser alegre, assim como quem nunca esteve alegre não sabe quando está triste; um estado é pressuposto do outro, e o estágio médio entre ambos é um limbo de indiferença, uma quase não existência (explicarei depois o porquê disso).

Então, é exatamente isso: quem é triste devaneia a alegria, porque a tristeza é o hino da esperança de ser alegre. E a esperança, essa maldita (ou bendita), que sobrou no fundo da Caixa de Pandora... Certo dia, alguém narrou esse mito grego para mim e me fez pensar sobre como a esperança é a mola propulsora de tudo que existe no mundo. Acredito que nenhuma ação humana volitiva é feita sem beber dessa fonte. Então, todo ato de vontade é um ato de esperança. 

Mas, enfim. Sei que soa depressivo ter um blog quase inteiramente escrito em relâmpagos de baixo astral, mas não é de tristeza que são feitos os melhores sambas? Vinicius de Moraes foi alguém que soube falar por mim quando cantou o Samba da Bênção:

É melhor ser alegre que ser triste / Alegria é a melhor coisa que existe / É assim como a luz no coração 
Mas pra fazer um samba com beleza / É preciso um bocado de tristeza / É preciso um bocado de tristeza / Senão, não se faz um samba não 
(...) Fazer samba não é contar piada / E quem faz samba assim não é de nada / O bom samba é uma forma de oração 
Porque o samba é a tristeza que balança / E a tristeza tem sempre uma esperança / A tristeza tem sempre uma esperança / De um dia não ser mais triste não

Escrever, para mim, é a minha oração; como o bom samba é para Vinicius. É na escrita que transcrevo em vocábulos todos os sentimentos, todas as reflexões e todas as preces; é onde toco a esperança do meu samba "de um dia não ser mais triste não". Mas, essa tristeza é bela porque, também como o bom samba, está cheia de Amor. E aquele estágio médio entre um estado (tristeza) e o outro (alegria), que eu disse ser um limbo de indiferença, só é transponível para quem ama. Não amar é não estar susceptível à tristeza nem à alegria, é cair nesse limbo e quase não existir; é não sambar.

Eu até poderia continuar escrevendo muito mais nesse looping mental de hoje, mas vou encerrar o solilóquio por aqui mesmo. Espero sentir menos necessidade de escrever em tão pouco tempo, porque esse samba também cansa.