quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Anatomia da Alma e Psicologia dos Corpos

Eu não quero aqui entrar em méritos religiosos, mas, pra mim, corpo e alma são uma coisa só. A gente não diz "Aquele corpo dança muito bem", ou "Olha aquele corpo atravessando a rua". A gente se refere àquela "pessoa", porque a essência dela toma a forma do seu corpo, ao mesmo tempo que o corpo é a personificação dessa essência. Eu nunca poderia ser eu mesma sem o meu corpo, nem meu corpo continuaria sendo eu mesma se não fosse habitado por minha alma. Eu só SOU, porque tenho (consciência de que tenho) ambos: corpo e alma

Porém, nesses tempos loucos do século XXI, o corpo parece ter se transformado em um mero acessório: moldável, dissociável da alma. O corpo passou a ser um adorno projetável, que se busca modelar constantemente, como se, apesar de necessário, já não fosse mais suficiente para abrigar a nossa essência. Não existe mais aquela resignação, aquele "aceitar a anatomia que Deus deu", entendendo o corpo como um presente do destino, ou um castigo, sei lá. Ao contrário, há uma verdadeira cultura ao corpo: homens e mulheres buscando excelência na moldura, buscando uma forma nova, uma embalagem exclusiva para seu produto. 

Não é algo que eu esteja criticando ou elogiando, só questionando. É que, se eu acredito que o corpo e a alma não podem se dissociar, então, sou obrigada a acreditar também que essa modelagem toda acaba, de alguma maneira, atingindo a nossa essência. A dúvida é se essa busca por uma forma seria motivada pelo fato de a alma estar desconfortável naquele recipiente, precisando, ambiciosamente, adquirir outra embalagem porque seu conteúdo já não é mais o mesmo; ou se, por razões alheias, externas, busca-se mudar a forma para que o conteúdo também se modifique, numa tentativa de elevar a auto-estima, por exemplo. 

Acho a primeira situação absolutamente normal, apesar de reforçar o caráter acessório que o corpo tem tomado. Mas, essa segunda hipótese... Essa segunda hipótese eu não assimilo. 

As mudanças internas são muito mais complexas do que as externas. Você pode fazer um penteado diferente pra mostrar que tem atitude, mas essa atitude não vai passar a fazer parte de você por osmose entre seu eu-lírico e sua escova de cabelo. Você pode se dar de presente uns seios novos, mas a sua auto-estima não vai mudar simplesmente porque você aumentou 2 ou 4 números do sutiã. Seria "tão eficaz quanto mascar chiclete pra tentar resolver uma equação de álgebra": inútil.

Faz umas duas ou três semanas que comecei a malhar e sempre me pego observando as pessoas da academia. Aprendi que isso é um "estudo etnográfico", mas eu só uso esse termo pra diminuir meu sentimento de culpa por ficar analisando a vida alheia mesmo. De toda forma, é curioso ver as pessoas se admirando nas paredes espelhadas, ou olhando seus corpos enquanto fazem musculação. Algumas parecem estar contemplando a beleza daquilo que enxergam, outras parecem estar avaliando os resultados dos exercícios... Não sei.

Mas, qual o mal de elas quererem gostar do que estão vendo no espelho, né?! Acho que isso é sadio, se o conteúdo estiver bem "assentado" na embalagem. Caso contrário, incorre-se no erro de querer mudar, de fora para dentro e às pressas, o que exige uma mudança interna, trabalhosa e demorada. Evite!

Por outro lado, eu também penso o seguinte: pra que serve todo aquele ar que vem dentro do pacote de batatinha Ruffles? Para proteger as batatas. Então, numa analogia bem xexelenta, algumas pessoas poderiam buscar uma forma/embalagem diferente do conteúdo, simplesmente como uma tentativa de auto-proteção. Até porque, hoje, com todo esse culto ao corpo, parece ser um pecado mortal não atender às exigências de mercado; e atender às exigências do mercado funciona como um mecanismo de aceitação social que pode (mas não deveria) influenciar, sim, na auto-estima das pessoas, na essência.

Não sei que linha de raciocínio está correta, mas eu vou continuar o meu Projeto Verão 2015 mesmo pra, finalmente, ganhar as pernas de Sabrina Sato e sambar na cara da sociedade. Então, podem me julgar também! Hahahaha... Talvez as pernas da minha alma não caibam mais nessa circunferência das minhas coxas, como elas mesmas já não cabem mais em algumas de minhas roupas antigas. #VlwFlws