Jardim da Estrela, meu lugar predileto de Lisboa (foto tirada ontem) |
Ontem completou-se uma translação da Terra desde que cheguei a Lisboa. Ontem, há 1 ano atrás, estava descendo no Aeroporto de Portela e enfrentando meu primeiro “desafio”: transportar mais de 50kg de bagagem (sim, minhas malas eram mais pesadas que eu) até o Uber.
Com muito esforço de braços pouco habilidosos/musculosos, deitei as malas no carrinho, uma sobre a outra, e, inclinando o corpo para a frente, consegui me deslocar. Alcancei a saída, mas o visor do celular (você vai se acostumar, muito mais rápido do que imagina, a dizer “ecrã do telemóvel” depois de ter que resolver algumas burocracias de telefonia) mostrava que o motorista estava em outra parte. Mapas confusos, eram andares diferentes.
Apressei o passo e, ao atravessar a rua, o carrinho foi de encontro a um pequeno degrau da faixa de pedestres, e todas as malas vieram ao chão.
Ouvi algumas risadas e algumas reações de surpresa ao fundo, mas não ouvi o “deixa-me te ajudar” que eu precisava naquele momento. Tive vontade de chorar, parecia que a aventura mal tinha começado e os primeiros minutos já davam sinais de que sairia tudo errado. Então, lembrei de algumas palavras do meu pai sobre essa minha mania de “chorar por tudo” e de como eu o tinha feito acreditar que eu não era mais aquela mesma menina chorona de 10 anos atrás... Engoli o choro, enquanto lutava contra a gravidade para manejar o peso das minhas malas ridiculamente cheias, e segui, até alcançar o local exato em que o segundo Uber me aguardava (já que o primeiro havia cancelado a viagem em razão da minha demora).
Surpresa agradável foi encontrar aquele gentil e simpático motorista, que me ajudaria com as malas e me levaria para esse mesmo lugar na Estrela que, até hoje, ainda chamo de “casa”.
E assim também tem sido esse meu primeiro ano inteiro por aqui... Eu trouxe muito mais do que roupas naquelas bagagens: eu trouxe meu medos, anseios, paixões, sonhos, traumas, e eles, invariavelmente (como também aconteceria se eu estivesse em qualquer outro lugar), desequilibram-se e vêm ao chão. Nem sempre tenho ajuda para reerguê-los, então, aprendi a fazer isto sozinha; mas, com frequência, cruzo com pessoas adoráveis, que fazem essas malas parecerem menos pesadas do que realmente são, ou com pessoas desagradáveis, que parecem rir quando as deixo cair.
O choro? Decidi que não preciso engoli-lo mais. Nunca gostei mesmo do sabor, mas a verdade é que percebi que ele não é uma amostra grátis da minha fraqueza, mas sim a forma como eu expresso aquilo que muita gente, surpreendentemente, ainda pensa que nem tenho: sentimentos. Chorar é uma busca por consolo, e saber que esse consolo pode vir de nós mesmos, como resultado do raciocínio que o próprio desespero do soluçar entre uma lágrima e outra nos trouxe, é o caminho mais genuíno para o crescimento.
Então, com bagagens, pessoas, e muito estudo, tenho construído diariamente a minha Lisboa, desde 18 de setembro de 2018. Quanto ao Brasil... Eu nunca deixei aquele lugar.
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