Ontem tive minha primeira experiência sozinha no Atendimento da Defensoria Pública da União em Pernambuco e senti uma imensa necessidade de escrever a respeito. Sem dúvidas, ontem conheci o lado mais importante daquele órgão público: o lado de quem busca a Assistência, de quem necessita dela, de quem se sente injustiçado, de quem não tem outra alternativa... Ontem tive a experiência mais humana da minha vida.
O simples fato de estar no Atendimento já me parecia desafiador desde o princípio. O que eu direi? O que eu farei? E se me perguntarem algo que eu não tenha conhecimento jurídico suficiente para responder? E se eu der alguma informação errada? E se eu esquecer de algum procedimento? Não seria mais uma petição, ofício, ou recurso, que eu poderia passar horas analisando modelos, melhorando a redação, pesquisando jurisprudência, etc. para elaborar. Era ao vivo, em tempo real, em carne e osso. Mas, desafio dado, desafio aceito; por livre e espontânea pressão, já que o Atendimento é obrigatório na experiência de estágio da DPU.
E, assim, o "Assistido", que, até então, se restringia a um termo usado para identificar a parte autora no Processo de Assistência Judiciária, personificou-se do outro lado do guichê 05. Incrível! São pessoas de verdade. Com suas vidas, emoções, necessidades, inquietudes; são pessoas que aguardam aflitas a minuta das peças de seu processo, as audiências, as decisões... Mas, principalmente, são pessoas que não estão ali "pra ver se cola", mas porque TEM que colar, porque dependem do ganho daquela causa, da concessão daquele benefício, para a manutenção de sua vida.
Foi assim que recebi uma senhora de bengala que se recuperava de uma cirurgia na coluna e retornava para saber a quantas andava seu processo para receber uma Pensão por Morte em razão do falecimento de seu ex-marido. A situação era complicada e a Defensoria se habilitou ao processo já em fase recursal, tendo a antiga advogada se adiantado e entrado com o recurso à nossa frente, deixando o Defensor de mãos atadas. Recurso negado, PAJ arquivado pela DPU. E a quem caberia dar a notícia? Analu. Que barra, em meu primeiro dia... Mas eu o fiz. E a senhora desabou em lágrimas, em pedidos de ajuda, em desespero. Eu realmente não sabia o que ainda poderia ser feito, nem a Supervisão sabia ao certo... Fiz o que estava ao meu alcance, relatando tudo e passando todas as informações prestadas pela "Assistida" ao defensor do caso pela ferramenta de Retorno. Mas, acabei sofrendo com ela, por esse sentimento de impotência, por não poder dar uma solução ao seu problema...
Durante toda a tarde, eu ouvi reclamações de quem teve o pedido de conversar diretamente com o Defensor negado pela Supervisão, de quem se sentiu enrolado em atendimentos anteriores, de quem queria mais celeridade, de quem estava inconformado... Mas ouvi também palavras carinhosas de agradecimento, incontáveis "Deus lhe pague", "Deus lhe abençoe", pedidos de desculpa pelo trabalho dado (e até uma promessa de "se eu ganhar na Loteria..." hahahaha). Acho que nada será mais gratificante e engrandecedor do que isso foi. E algo que só dependeu de uma dose maior de "boa vontade" da minha parte para acontecer.
Acho que nunca aprendi tanto em cinco horas, e com pessoas que, aparentemente, não teriam o que ensinar a alguém a quem elas chamam de "Doutora". Elas podem não saber, mas ontem fizeram de uma simples e cansativa tarde de Atendimento uma experiência de aprendizado incrível. A palavra "Assistido" deixou de ser só uma palavra. Voltei para casa realmente mais humana, mais sensível e mais comprometida com o que eu escolhi como palavra de ordem para a minha vida: AJUDAR.
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