A grande frustração para quem, como eu, gosta de escrever, é a convicção de que nenhum vocabulário é vasto o suficiente para abarcar todos os sentimentos e sensações que o ser humano é capaz de experimentar.
Quando estamos aprendendo um novo idioma, é comum que tenhamos certas dificuldades para expressar nossas intenções comunicativas. Não temos ainda vocabulário suficiente e é necessário trabalhar e estudar para expandi-lo. O problema em relação aos sentimentos é que esse abismo é intransponível, não há estudo que o reduza. Não se trata de um desconhecimento de expressão linguística, mas de uma ausência total: a palavra não existe.
Então, na tentativa de reduzir essa frustração, lançamos palavras e adjetivações que não dizem nada sobre o que realmente se sente, mas sobre a impossibilidade/incapacidade de dizê-lo. Uma dessas palavras, talvez a mais comum, é: INDESCRITÍVEL. Palavras como essa são adjetivos que descrevem (ou denunciam), com um só vocábulo, uma ausência de vocábulos compatíveis com o que se quer expressar. Não há, para mim, nada mais metalinguístico do que isto. Nem mais genuinamente frustrante.
Hoje, lembrei que meu blog fazia 9 anos de existência. Há 9 anos, eu tento transcrever em palavras aqui o turbilhão de sentimentos e inquietações “indescritíveis” que me açoitam ou acariciam a alma. Pesquisei, então, a palavra “indescritível” (e o seu plural) em cada uma das minhas 33 publicações de 2011 até aqui e não a encontrei; o que me leva a experimentar uma breve dúvida entre duas constatações: 1) eu tenho talvez um bom vocabulário que, há 9 anos, vem sendo suficiente para, de fato, descrever as minhas mais indescritíveis sensações, ou; 2) há 9 anos, as sensações que narro aqui não são suficientemente indescritíveis.
Feitas as contas, torço pela primeira conclusão, mas, em qualquer um dos casos, felizes 9 anos de solilóquios! Felizes 9 anos de textos escritos para serem escritos e não para serem lidos!