A justiça dos homens é a mais severa de todas: suas leis confundem verdades com convicções, valores com dogmas e moral com tabu; suas normas de conduta subjugam as minorias, exaltam a intolerância, aprisionam seu próprio povo e silenciam até o pensar. Nessa justiça, o homem é, simultaneamente, juiz, advogado, promotor e réu; aponta o erro, julga, é julgado, condena, é condenado e defende quem comunga de sua visão. É a mais falha das justiças, mas a mais valorizada.
A justiça dos homens é o olhar desconfiado que se volta para um negro. É a xenofobia. É a cara de nojo numa cena de romance protagonizada por homossexuais. É o medo do candomblé. É a rejeição ao que lhe é diferente. É a generalização. É o duplipensar. É a intolerância. São as cotas raciais. É o "Orgulho Gay", a "Consciência Negra", o "Feminismo", a distinção do que deveria ser (e é) uma coisa só.
A justiça dos homens repudia a imoralidade com a própria imoralidade. Instala um preconceito ao próprio preconceito. Não tolera a intolerância. É a contradição de querer impor um ponto de vista, com um grito de guerra que, supostamente, clama por liberdade de escolha.
Resolvi escrever sobre isso, porque o tema tem me incomodado profundamente. Já chegou ao ridículo esse embate religioso, sexual, político e ideológico que vem sendo travado diariamente nas redes sociais e marcado por polêmicas aberrativas a nível nacional. É vergonhoso, eu sei, ainda conviver com o preconceito. Mas, alguém já parou pra pensar que, o que antes era tido como uma minoria oprimida, agora é uma maioria que oprime? As pessoas então repudiando o preconceito e criando um novo preconceito: o preconceito ao preconceituoso. Isso é completamente paradoxal! Enlouqueceria qualquer sociólogo.
Não pretendo fazer apologia a nenhum tipo de fobia, mas, essas discussões todas sempre acabam me parecendo uma coisa só: o sujo falando do mal lavado. Cada um tem sua convicção, suas certezas, suas crenças, etc. e todos querem ter seu espaço respeitado. O problema é que a ideia agora é diferente: não basta ter seus próprios valores, tem que exaltá-los EM DETRIMENTO dos valores dos outros! Não basta ter fé, tem que criticar a religião dos outros. Não basta ter sua opção sexual, tem que rejeitar a opção dos outros. Não basta ser bom, tem que apontar os defeitos dos outros. A grama do vizinho nunca foi tão podre na boca de quem critica.
Pelo meu ponto de vista, instaurou-se um repúdio aos preconceituosos, não ao preconceito. Os religiosos odeiam os intolerantes, não a intolerância. Os homossexuais lutam contra os homofóbicos, não contra a homofobia. É o ódio, como sempre, regendo as relações humanas na sociedade. É a justiça dos homens mostrando pra que foi criada.
O problema é que essa "INjustiça dos homens" tá muito mais enraizada do que a gente imagina. Ela está no berço da sociedade, na instituição mínima do social: a Família. E nela, falta diálogo, falta tolerância... Falta EDUCAÇÃO DOMÉSTICA! O medo impõe normas, mas não as torna verdades absolutas. Cartazes, gritos, protestos, violência e sofativismo nunca mudaram a maneira de pensar de alguém. Equidade não se impõe: o preconceito só vai acabar quando as pessoas se sentirem semelhantes, não enquanto forem forçadas a isso.